Garotas estúpidas
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Quando o ficante torna-se namorado. Por Fabricio Carpinejar

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Fabricio Carpinejar, agora, é colaborador do GE. E o poeta vai falar de um assunto universal por aqui: o amor.

Carpinejar é filho dos poetas Maria Carpi e Carlos Nejar. Ao longo dos seus 23 anos de carreira, o escritor reflete sobre sentimentos, relações e elos afetivos em seus textos.
E, ele tem uma visão bem interessante sobre o amor em tempos atuais: “Passamos por um momento em que amor era visto como renúncia, para pensarmos nele como amor próprio. Como o outro vai te amar, se você não se ama?”, falou. Uma reflexão bem interessante?

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Então, aconselha: “Fale, diga, demonstre. Todo produto tem um manual de instrução. Faça o seu. Não espere por adivinhação que o outro entenda o que você quer”.
Para fechar, ele comenta sobre o que seria a tal da felicidade: “A felicidade é um sentimento entre duas tristezas. Então, aprenda a apreciar momentos pequenos, como uma xícara de café ou aquele pijama quentinho para ver uma série”.
Abaixo, você confere o primeiro texto:

“QUANDO O FICANTE TORNA-SE NAMORADO

Fabrício Carpinejar
Escritor, autor de “Minha esposa tem a senha do meu celular” (Bertrand Brasil), entre outros.
O amor começa com uma piada.
Não que falte coragem para ser sério, mas porque sempre há o medo da precipitação e da ausência de reciprocidade.
Se falar cedo demais o “eu te amo”, pode afugentar a pessoa. Se não falar, pode transmitir uma ideia errada de indiferença.
Eis o dilema irônico: não queremos apressar nada querendo apressar tudo.
Só o humor nos ampara na grande indecisão entre se comprometer ou não, entre ser aceito ou levar um fora. Nunca teremos certeza da correspondência, e o jeito é pescar reações, ciscar atitudes, testar a audiência.
Se não existir uma resposta afirmativa do outro lado, ainda é possível esconder a dor alegando uma brincadeira.
Meu início de namoro com Beatriz partiu de um erro de interpretação de minha parte. Fui tapado, o que me salvou.
Estávamos viajando de Belo Horizonte para Lavras Novas (MG), ficaríamos o final de semana numa pousada. Até esse período, nos encontrávamos no limbo das relações, não tendo certeza se ficaríamos juntos. Não havia sido dito coisa alguma dos sentimentos de um para o outro – só curtíamos a vida, agarrados, sem juras e promessas.
A estrada na montanha se mostrava sinuosa e apertada, passava um veículo por vez, ou indo ou voltando. E para permitir o ingresso de um carro na contramão, éramos obrigados a resistir na beira do precipício, no fio vertiginoso da terra batida com as pedras
Simulando uma cena de últimas palavras pelo perigo, procurando ser bem humorada com a dificuldade do trajeto, Beatriz disse que me amava. Não entendi que se tratava de uma encenação graciosa, que ela só falava aquilo para rir, para diminuir o nervosismo diante do desfiladeiro. Eu levei a sério. Respondi firme e forte que a amava também. Tampouco ela esperava o meu beijo apaixonado, apenas interrompido pela buzina de um motorista desesperado parado na nossa frente.
Se eu tivesse compreendido que era uma gozação, teria tomado uma atitude diferente. Talvez debochasse do seu romantismo falso e fosse cínico. Mas acreditei, acreditei que ela me amava e pulei no abismo de mãos dadas.
Ela foi a primeira a dizer o eu te amo, claramente brincando, eu fui o primeiro a acreditar.
Tenho convicção de que a minha reação determinou o nosso namoro. Logo depois, ela mudou o comportamento comigo. Parou de evitar a conversa sobre o futuro e dar evasivas. Ela me olhava e me olhava imaginando como seria viver ao meu lado. E me assumiu.
Não sei se me amava naquela hora, mas a partir dali começou verdadeiramente a me amar”

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